Imensas criaturas terrestres,
Fermento, temperado na fornalha lôngeva
De uma existência.
Velhos, nos aposentos geriátricos
Dos jardins.
Sentados sobre o
Peso atávico da sua antiguidade,
Suportam a punição de Atlas.
Meneiam o tronco,
Nodosos salgueiros,
Em gesto de vómito,
De indisposta melancolia.
Oprime-lhes o despotismo
De um mundo,
No palco onde singraram
Actuações e animosidades
Infinitas — seus rostos rotos
Engelhadas rugosidades,
Fileiras do inesquivável
Abate da vida.
Choram como riem,
A desistência é um mote
Bifurcado:
Sustenta-os e embota-os;
Estátuas. Restam-lhes os fragmentos
Que resvalam,
Fuligem fétida,
Folhas caducas de Outono:
O último reduto de resistência.
Velhos, sois velhos,
Como a terra revolvida,
O terreno cauterizado,
A túmida placenta,
Onde um dia vingará
Uma nova colheita.
Guilherme Gomes
Nós poetas, escrevemos para que vós outros vivam.
Nós poetas, somos interlocutores do desejo.
Nós poetas, ardemos no ígneo propósito do despropósito.
Nós poetas, somos aljava de sementes em brasa, para que os caminhos em cinza, vos façam brotar, vós, viventes.
Nós poetas, descarnamos para que o osso seja a vossa carne.
Nós poetas, desvivemos ao desbarato, para que o tacto que nos deixou reféns dos dedos, seja conto de trovador nos vossos pedidos.
Nós poetas adornamos a vida de inexistência, inundando a vossa de existência.
Guilherme Gomes
. Velhos
. ensaio(8)
. citações(7)
. crónica(6)
. apontamento(3)
. dissertação(3)
. poema(2)
. video(2)
. conto(1)