Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Matéria

Soçobra um punho branco, como lençol marmóreo sob um manto glauco que poderá ser sargaço pousado na espuma ou a proeminência da camisa que se rebela: é o meu braço, limemos as esporas de uma métrica que conduz ao equívoco, é unicamente o meu braço, lato e inerte. Mas existe algo neste constraste de pigmentos que desnivela a minha sensibilidade, algo só e apenas tangível através de um marasmo de caracteres que aqui devoto. É o significante, o signo, a prosa latente, a dimensão imanente que granjeia novas morfologias logo que fixada num formato assimétrico. E porquê assimétrico? Assimétrico ou dissíncrone porque o cultivo da construção situa-se num limbo entre o que é o que fazemos ser. Esta realidade "decalé" entre o que é perceptível e o que percebemos é aquilo que definimos como interpretação. Ao procurarmos estabelecer elos de consignação semântica ou iconográfica, como que alinhamos os sintagmas que compõem uma malha final cujo fractal é a inteligibilidade que lhe conferimos. Definir, segundo a resenha de Pascal, é limitar, mas será por outro lado, imitar, forjar um objecto no qual enxertamos em potência a configuração do referente. Bragança de Miranda considera a imagem como uma "lesão primordial das coisas", um vilipendiar da essencialidade de um objecto, desfazaendo a sua opacidade, colocando-o a nu, mas provido de um novo traje, de um neologismo, de um revestimento semiótico ou metafísico. A objectualidade poderá ser entendida assim como um trompe l'oeil, um ditirambo dionísiaco cuja efígie é a nomeação ou epíteto que lhe atribuímos.

A minha manga é verdade porque a vejo. É verde porque a traduzo em verde e tem branco uma vez que um vácuo cromático cria um feixe níveo que é a manga da camisa. E tudo isto é tão real quanto falível ou esmorecível.

publicado por sofisma às 17:30
link | comentar | favorito

.Profile

.pesquisar

 

.Junho 2011

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

12
13
14
15
16
17
18

19
20
21
22
23
24
25

26
27
28
29
30


.Posts

. A Árvore da Vida

. Matéria

. Jonathan Livingston Seagu...

. Wasabi, a coisa verde que...

. The Beginning Is the End...

. Transcendência

. Sofrer

. My Blueberry Nights

. Desespero

. U2 - The Sweetest Thing

.Arquivos

. Junho 2011

. Novembro 2010

. Outubro 2009

. Maio 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Julho 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

.tags

. ensaio(8)

. citações(7)

. crónica(6)

. apontamento(3)

. dissertação(3)

. poema(2)

. video(2)

. conto(1)

. todas as tags

.as minhas fotos

blogs SAPO

.subscrever feeds