Domingo, 5 de Junho de 2011

A Árvore da Vida

É desnecessário que nos recordem da efemeridade que é estar preso à vida, pois libertos, desse umbilical elo que é existir em devir, consolidamos, paulatinamente, viveres que nos ensinam, nos adjudicam e instruem, porquanto as peripécias e elucubrações ocorrem. Faltou-me o pé, senti falta de ar, afrontei-me, temi, receei - terminologia cabal no que toca a existir e persistir na senda humana que é conquistar cada dia. Ontem vi um filme que fendeu fundo no que concerne estas concepções genesíacas. O que é tudo isto? O que é estar vivo? - as questões em si parecem destoadas, pueris, e no entanto, a despeito do gesto blasé que o leitor possa incitar, o que é certo, ou certa, é em rigor, a perenidade da sua pertinência. Este é um filme que marca justamente por isso. Não propõe, ou se o faz, dá pelo menos margem a uma dada hermenêutica. Estar vivo é também o privilégio não compreender, de não o compreender, esse feneómeno de ser. Deixar de ser, partir, abandonar a existência, pode, apesar de reincidentemente, propalar inefáveis perguntas, que, no caso de "A Árvore da Vida", nos fazem remontar aos mais primevos sentimentos geodésicos.

publicado por sofisma às 19:20
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Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Matéria

Soçobra um punho branco, como lençol marmóreo sob um manto glauco que poderá ser sargaço pousado na espuma ou a proeminência da camisa que se rebela: é o meu braço, limemos as esporas de uma métrica que conduz ao equívoco, é unicamente o meu braço, lato e inerte. Mas existe algo neste constraste de pigmentos que desnivela a minha sensibilidade, algo só e apenas tangível através de um marasmo de caracteres que aqui devoto. É o significante, o signo, a prosa latente, a dimensão imanente que granjeia novas morfologias logo que fixada num formato assimétrico. E porquê assimétrico? Assimétrico ou dissíncrone porque o cultivo da construção situa-se num limbo entre o que é o que fazemos ser. Esta realidade "decalé" entre o que é perceptível e o que percebemos é aquilo que definimos como interpretação. Ao procurarmos estabelecer elos de consignação semântica ou iconográfica, como que alinhamos os sintagmas que compõem uma malha final cujo fractal é a inteligibilidade que lhe conferimos. Definir, segundo a resenha de Pascal, é limitar, mas será por outro lado, imitar, forjar um objecto no qual enxertamos em potência a configuração do referente. Bragança de Miranda considera a imagem como uma "lesão primordial das coisas", um vilipendiar da essencialidade de um objecto, desfazaendo a sua opacidade, colocando-o a nu, mas provido de um novo traje, de um neologismo, de um revestimento semiótico ou metafísico. A objectualidade poderá ser entendida assim como um trompe l'oeil, um ditirambo dionísiaco cuja efígie é a nomeação ou epíteto que lhe atribuímos.

A minha manga é verdade porque a vejo. É verde porque a traduzo em verde e tem branco uma vez que um vácuo cromático cria um feixe níveo que é a manga da camisa. E tudo isto é tão real quanto falível ou esmorecível.

publicado por sofisma às 17:30
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Jonathan Livingston Seagull

Hoje dei por mim a ouvir a música "Be" do Neil Diamond que, orquestra a rebelião de uma gaivota chamada Jonathan Livingston Seagull, do livro com homónimo epíteto, escrito por Richard Bach. Vi o filme, como advento de uma corrente esotérica e demanda de descoberta de então; era na época adolescente, revoltado com o desajuste que a minha personalidade cobrava do mundo, logrando que na dissemelhança, no comportamento endémico e implosão emocional poderia erigir um universo meu. Hoje sei que estou certo: é possível garimpar na selha constelar de escolhas, uma que nos aprouva que nos sirva, mas sendo desta servos. Poderá parecer que escarneço a individualidade que arrecadei, mas o que acontece é que como em tudo, a concentração e exacerbação em desmesura conduz à cristalização e à infusão de um objecto tornado fetiche. Vivo efectivamente à margem, como todos vivemos, de uma normalidade latente, mas não estou convicto dessa anormalidade ou atipicidade feliz, porque não creio no que sou, não sou todo eu pensamento desde a asa até ao vôo, como o livro propõe. Houve, algures no meu crescimento, uma estagnação, um receio, um assombro não traduzido em evolução e hoje temo qualquer manifestação do meu espírito. Vivo por isso à margem dos outros e de mim próprio, com um pé no arquipélago e outro na ilha que impeço de sucumbir.

sinto-me: Exaurido
música: Be, Neil Diamond
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publicado por sofisma às 11:34
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Sábado, 10 de Outubro de 2009

Wasabi, a coisa verde que sobe directamente ao nariz

 

Dedico as próximas elucubrações a um inesquecível episódio cujas repercussões tão cedo não saberei mitigar, e que, decorre da minha estreia no subtil universo da cozinha nipónica.

 

O caso é grave meus amigos, e não fosse eu um defensor acérrimo de alguns tresvarios e ulterioridades no que concerne a gastronomia (diga-se que sou pseudo-sazonalmente-vegeteriano), e erigia aqui uma grave contenda contra um dos preparados mais explosivos e devastadores que já ingeri: Wasabi - como vim a descobrir, não por grande solicitude ou bonomia da delicada empregada japonesa que, atalhou a minha insolência de lhe perguntar o que tinha comido, com um gutural: "wasabê-aê", que, na altura sublimei mas agora após uma pesquisa vim a confirmar a sua verosimilhança.

 

Antes de mais, e como incauto provador completamente descomplexado e estreante, demonstrarei aqui o meu prisma desta experiência deveras esfusiante, descrevendo-a de forma progressiva:

 

Fui com uma amiga minha, chamada Ana, a um restaurante Japonês. Sentámo-nos e, com a parcialidade própria de um indivíduo plenamente imbuído na pluridade e multiculturalidade deste globo, pedi, como convinha, uma coca-cola (produto cuja etimologia remonta aos anais da história oriental, claro); entretano, enquanto debatíamos a inefável proeza de manejar porções de alimento com dois filetes de madeira filamentosa (para não destoar, diga-se, já que nada insinuava que o purgatório pudesse transformar-se ocidentalmente em práticas comuns de garfo e faca), chegou o primeiro (e único, pois viemos a descobrir que peixe cru enche mais do que parece) prato: (...um nome japonês inexprimível...); a comida era óptima, e, posso dizer em rigor que, tal só corroborou o meu fascínio pela delicadeza e meticulosidade orientais; contudo, (e aqui entra o temeroso wasabi), desde o começo nos foi colocada na mesa um pequeno wok de madeira, cujos elementos dispostos eram respectivamente, uma substância (que mais tarde vim a atribuír o epíteto lato de "coisa") verde e umas fatias róseas desmaiadas de um peixe, providencialmente cru.

 

Ora, um avaliador atento, que como deverão já ter induzido não é meu apanágio, apreciaria duas coisas que a mim nada disseram: por um lado, a escassa quantidade de ambos os preparados, que, estabelecendo um paralelo gatronómico poderiam pressupor tratar-se de algo extremamente concentrado e pungente, como disso são exemplo algumas bebidas espirituosas, condimentos, molhos, especiarias, etc; e, ainda, o arreigado e eclodente humor e odor por estes libertado, que, para alguém minimamente versado na arte de deglutir, deveria estar desperto para a vivacidade e potência de tais alimentos.

 

Ignorando ambas as interpretações instintivas e somáticas, eu, temerariamente, traguei, literalmente, a chamada coisa verde, mesmo depois do ensejo preliminar que já me havia alertado para a equacionável intensidade esperada.

 

Bom, meus amigos, é neste trecho deste périplo que as palavras carecem de destreza e expressividade suficiente para traduzir com propriedade aquilo que se passou. Mas, como provador, posso definir a experiência de sorver wasabi como se fosse um punhado de tremoços muito ortodoxos, como um entrecruzar de expiações físicas e psicológicas, que faz convergir a forte ardência e fogosidade de um espamo estomacal, com, o marasmo apoteótico e catártico da pimenta misturada com rabanete quando nos trepa, diriamos, para o cérebro tal é força.

 

Tudo isto é arrebatador, sem dúvida, mas, concedendo a um adágio popular, depois de recuperado descobri para meu pesar que, "a procissão ainda ia no adro"; a coisa verde é dura de digerir meus caros, e aconselho aos mais desafortunados que não possuam uma mecânica peristáltica capaz de se afastarem deste wasabi.

 

O meu objectivo, depois de refeito, é, sem dúvida, reiterar esta experiência fulgurante da comida japonesa, exlcluíndo claro, a maldita coisa verde, pelo que, tenciono muito em breve, convidar-vos, quem quer sejam, se o forem, a assumirem a posição de comensais e comparsas numa refeição nipónica em minha casa, inteiramente confeccionada por mim.

 

Um ponto prévio e irrisório: quem não gostar e no final me defraudar, levará obviamente com wasabi na feijoada que servirei no fim àqueles que considerarem, e são muitos, que a comida oriental não puxa carroça.

 

 

Wasabi (山葵) é um tempero em pasta utilizado na culinária japonesa, feito da planta Wasabia japonica sendo cultivado nos frescos planaltos de Amagi, na península de Izu, Shizuoka, Hotaka e Nagano. A Wasabia japonica pertence à família das Brassicaceae, e é conhecida também como rabanete japonês ou wasábia.

O rabanete japonês apresenta alguma semelhança com a raiz-forte (Armoracia rusticana), mas tem um sabor e aroma mais delicado.


Wasabi fresco

O rabanete japonês selvagem parece ter sido utilizado como planta medicinal e antídoto para envenenamentos por ingestão de alimentos, daí ser servido com peixe cru desde a era Nara (710-793). O termo wasabi aparece no Honzo-wamyo, 918 o mais velho dicionário botânico compilado na era Heian (794-1185), referenciando 1025 espécies de plantas japonesas.

A primeira utilização do rabanete japonês no sushi, em particular no nigiri-zushi foi inventada no período Edo tendo sido um verdadeiro sucesso, sendo generalizado a outros pratos como as massas e arroz "ochazuke". Actualmente o rabanete japonês é usado para acompanhar sushi e sashimi.

O rabanete japonês obtido da raiz fresca é chamado de "hon-wasabi" (verdadeiro rabanete japonês) diferenciando-se das outras formas de apresentação. Uma vez esfarelado ou ralado (geralmente utilizando uma madeira com uma lixa bastante grossa) o rabanete japonês apresenta um aroma e paladar que não é comparável ao dos produtos comercializados, os quais se apresentam no mercado sob a forma de pasta ou em pó (kona-wasabi), sendo preparados do pó da raiz seca já produzida na Europa Armoracia rusticana G. M. Sch. denominada por "seyo'o-wasabi"" que é bastante diferente do genuíno. Estes produtos já contêm mostarda, corantes e aditivos para se aproximar do verdadeiro wasabi.


Tubo de wasabi

Tais produtos desempenham no entanto, um importantíssimo papel, devido à raridade e dificuldade em obter o verdadeiro rabanete japonês, digamos que permitiram a massificação do consumo do sushi e sashimi no Ocidente pelo menos com um paladar e aroma aproximado ao dos pratos genuínos, o que de outra forma seria inviável.

 

in Wikipédia Online

 

 

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publicado por sofisma às 10:04
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Sexta-feira, 15 de Maio de 2009

The Beginning Is the End Is the Beginning - Smashing Pumpkins

 

 

 


 

The Beginning Is the End Is the Beginning

 

Smashing Pumpkins

 

Send a heartbeat to
The void that cries through you
Relive the pictures that have come to pass
For now we stand alone
The world is lost and blown
And we are flesh and blood disintegrate
With no more to hate

Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain

Delivered from the blast
The last of a line of lasts
The pale princess of a palace cracked
And now the kingdom comes
Crashing down undone
And I am a master of a nothing place
Of recoil and grace

Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain

Time has stopped before us
The sky cannot ignore us
No one can separate us
For we are all that is left
The echo bounces off me
The shadow lost beside me
There's no more need to pretend
Cause now I can begin again

Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain
Strange
Strange
Strange

publicado por sofisma às 11:29
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